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Silêncio Forçado:

Surdos enfrentam desafios para pedir ajuda à polícia em casos de emergência




Data da Publicação da Coluna : 30/01/2024 por Leandro Estevão Gomes


Imagine a situação hipotética de João, um surdo e mudo analfabeto que vive sozinho. Um dia, ele enfrenta uma emergência em sua casa, mas a comunicação se torna um obstáculo. João não pode simplesmente pegar o telefone e discar para a polícia militar, pois os aplicativos disponíveis limitam-se a receber mensagens de texto ou de voz.

Na urgência de chamar ajuda, João percebe que os recursos disponíveis não atendem às suas necessidades. Aplicativos de emergência aceitam apenas mensagens de texto ou áudio, excluindo uma parcela significativa da população surda que se comunica apenas em LIBRAS, a Língua Brasileira de Sinais. Essa barreira linguística e de comunicação deixa João isolado em sua aflição.

A crítica recai sobre a falta de inclusão nos serviços de emergência. A ausência de sistemas de videoconferência, que permitiriam a comunicação em Libras, mostra uma lacuna na acessibilidade que pode comprometer vidas. O simples ato de garantir a presença de intérpretes de Libras através de videochamadas poderia ser a diferença entre a salvação e o desamparo para pessoas como João.

É essencial que as tecnologias de emergência evoluam para abraçar a diversidade de formas de comunicação existentes, incluindo a Libras. Investir em soluções que permitam uma comunicação mais eficaz em situações críticas não apenas respeita a diversidade, mas também salva vidas. O desafio está em garantir que todos, independentemente de suas limitações de comunicação, possam acessar os serviços de socorro quando mais precisam.

Felizmente, observamos uma mudança positiva nesse cenário. Na Polícia Militar do Distrito Federal, já é possível encontrar um atendimento mais inclusivo, que utiliza webconferência para se comunicar com surdos. Essa iniciativa representa um passo significativo em direção à igualdade de acesso aos serviços de emergência para todos os cidadãos.

Além disso, no estado de São Paulo, uma notícia promissora surgiu em 10 de janeiro. Os 592 mil cidadãos com deficiência auditiva na região agora têm a opção de solicitar atendimento em Libras diretamente no aplicativo Poupatempo. Este aplicativo oferece acesso a mais de mil serviços digitais, e a inclusão de intérpretes de Libras torna a interação mais fluida e eficiente.

Essas iniciativas demonstram que é possível superar as barreiras de comunicação e promover um atendimento mais acessível. Ao oferecer soluções que respeitam a diversidade linguística e comunicativa, as autoridades estão contribuindo para uma sociedade mais justa e igualitária. A esperança é que outros serviços públicos e instituições sigam esse exemplo, criando um ambiente onde todos possam receber assistência em momentos críticos, independentemente de suas limitações de comunicação.

Casos como o de João, onde a comunicação limitada coloca em risco a vida e a segurança de indivíduos surdos e mudos, não podem mais ser tolerados. É imperativo que a sociedade e as instituições reconheçam a urgência de promover soluções inclusivas para garantir que todos, independentemente de suas habilidades de comunicação, tenham acesso efetivo aos serviços essenciais, especialmente em situações de emergência.

As iniciativas em andamento, como o atendimento via webconferência na Polícia Militar do Distrito Federal e a disponibilidade de intérpretes de Libras no aplicativo Poupatempo em São Paulo, são passos encorajadores na direção certa. No entanto, é crucial que essas práticas se expandam e se tornem a norma em todo o país.

A conscientização sobre a importância da inclusão na comunicação de emergência deve se intensificar, promovendo uma mudança cultural que coloque a acessibilidade como prioridade. Todos os cidadãos têm o direito fundamental de se sentir seguros e protegidos, independentemente de suas limitações auditivas ou de fala. A sociedade deve se unir para garantir que ninguém seja deixado para trás e que casos hipotéticos como o de João não se repitam.



As opiniões e conteúdo desse artigo não expressam necessariamente a linha editorial do NorteRS ou pensamentos de seus diretores e editores. O conteúdo desse artigo são de inteira responsabilidade do autor.

Leandro Estevão Gomes\

colunista


Leandro é formado em direito pela PUCPR, pós-graduando em direito ambiental pela UFPR e pós graduando em gestão pública pela UEPG. Também sou estudante de graduação em Letras/ L ibras – Bacharelado – polo de Cruzeiro do Oeste pela UNIOESTE.