Skinheads acusados de agredir Judeus são julgados no Rio Grande do Sul
"O que aconteceu foi um atentado antissemita, racista para tentar nos matar", afirmou Rodrigo
Data da Publicação da Notícia : 29/03/2023 08:19 por Redação
TJRS
Encerrou, por volta das 18h, o depoimento das três vítimas do ataque a judeus, ocorrido em 2005, no bairro Cidade Baixa, em Porto Alegre. O júri iniciou nesta terça (27/3) pela manhã. Começa agora a oitiva das testemunhas.
O primeiro a falar foi Rodrigo Fontella Matheus, por videoconferência. Ele relatou que na época estava conversando com amigos na calçada, na esquina das Ruas Lima e Silva e República, no bairro Cidade Baixa, em Porto Alegre, quando foram atacados.
"O que aconteceu foi um atentado antissemita, racista para tentar nos matar", afirmou Rodrigo. A data (08/05) é especial para o povo judeu - marca o fim da 2ª Guerra Mundial. O grupo atacado usava quipá, uma espécie de chapéu em forma de circunferência.
Segundo ele, o agressor era um jovem com a cabeça raspada, vestido de roupa preta. Eles estavam na frente do bar Pinguim, do outro lado da rua. Além do quipá, Rodrigo segurava nas mãos uma caixa de matzá (pão ázimo sem fermentação, que faz parte da culinária judaica).
Rodrigo disse que não lembra das agressões e que só acordou no hospital. Ele levou quatro golpes de facas, além de socos e pontapés. "Tentei me encolher, proteger o rosto, não imaginava que estavam com faca", lembrou a vítima. "Simplesmente fomos atacados", afirmou. Em razão dos ferimentos, Rodrigo passou por cirurgias e ficou com sequelas. "A cicatriz maior é na mente, na alma".
Após as agressões, ele apresentou um quadro de estresse pós-traumático. A vítima contou que ficou com traumas até hoje e que ter que relembrar os fatos lhe causa sofrimento. "Tive pesadelos, não conseguia sair na rua. Desde que a Dra. Helena (Promotora de Justiça Lúcia Helena Callegari) me contatou para falar, já não durmo direito. Esta noite não dormi, não comi direito", disse Rodrigo. "É uma cicatriz que nunca mais sai".
Rodrigo disse que não lembra, mas que ficou sabendo que só não foi morto porque seguranças do bar o ajudaram. Lembra vagamente do agressor, que ele acha ser parecido com o réu Israel, mas não pode afirmar com certeza. Hoje Rodrigo reside no Exterior.
2ª vítima
A segunda vítima a depor foi Edson Nieves Santanna Júnior, 37 anos, engenheiro, também por videoconferência. Ele não mora no Rio Grande do Sul. Na época dos fatos, tinha 19 anos e estava no primeiro semestre da faculdade de engenharia química na Capital.
Relatou que, no dia do crime, conversava em frente ao bar Pinguim, com as outras duas vítimas, o amigo Alan e Rodrigo, que acabara de conhecer. Ouviu o amigo gritar “Tem skin!” e ao se virar para olhar levou a primeira facada na barriga. Ao andar em direção ao bar, foi ferido novamente com outra facada no antebraço.
Por ser do Interior, nascido em Santana do Livramento, disse que desconhecia as características dos skinheads. Fazia pouco mais de dois anos que morava em Porto Alegre, com o irmão mais velho, com o objetivo de estudar. Embora religioso, diferente das outras duas vítimas, no momento do crime, ele não usava o quipá. “Não vi que estávamos sendo cercados, minha atenção estava para a conversa. Eram mais de dez pessoas”, afirmou.
Foi socorrido pelo irmão e a namorada do irmão que estavam dentro do bar. Durante o depoimento, relatou que a primeira facada foi dada pelo réu Laureano Vieira Toscani, já condenado em 2018 por tentativa de homicídio triplamente qualificado. Disse que a segunda teria sido desferida por Israel Andriotti da Silva, um dos réus do júri iniciado hoje.
"Se eu tivesse a opção de não estar aqui hoje eu não estaria, não quero passar por isso de novo, recordar. Fiz terapia com psicólogo, psiquiatra, tomei remédios", disse
“Rezo todos os dias, sou grato pela oportunidade de estar vivo. Nenhum médico acreditava que não pegou (facada)em nenhum órgão. Isso fortaleceu a minha fé, todo 8 de maio comemoro por estar vivo!”
3ª vítima
Alan Floyd Gipsztejn foi a terceira vítima a falar. Ele prestou depoimento pessoalmente, sem a presença de pessoas no plenário.
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Confira imagens do júri no Flickr do TJRS
Texto: Janine Souza e Sabrina Barcelos Corrêa / Diretora de Imprensa: Rafaela Souza | dicom-dimp@tjrs.jus.br
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