Trauma x vida saudável
A ferida emocional do trauma se assemelha a um vulcão interior.
Data da Publicação da Coluna : 04/06/2025 por Dr. Jorge Trindade
Ao contrário do que muitas pessoas pensam, o trauma não advém exclusivamente de eventos de grande dimensão, como catástrofes, terremotos, enchentes ou guerras. Ele também pode decorrer de acontecimentos do dia a dia que, no entanto, de acordo com as vulnerabilidades de cada um, ferem e machucam emocionalmente. Às vezes, o trauma vem de um pequeno gesto, de uma palavra e até de um desolhar. Costuma estar no passado, principalmente nas vivências infantis, quando a personalidade estava ainda na fase mais importante de seu desenvolvimento, embora ele possa acontecer em qualquer momento da vida adulta.
Trata-se de uma ferida interior. Uma ferida aberta ou, eventualmente, com as marcas doloridas da cicatrização que continuam trazendo dor e sofrimento. Sua dimensão é originária e principalmente emocional. Mais do que não lembrar, o sofrimento psíquico é, sobretudo, não poder esquecer. O pensamento traumático se impõe intrusivamente mesmo quando a pessoa não deseja lembrar.
No entanto, embora o trauma remeta essencialmente ao plano emocional, ele pode trazer consequências em diversas áreas. Sintomas e doenças psicológicas como ansiedade, medo, angústia, agitação (TDAH), descontroles alimentares, estresse pós-traumático, pensamentos de repetição ligados ao evento, depressão, adesão a drogas etc.
O trauma ainda pode acarretar as chamadas doenças psicossomáticas. Por exemplo, asma, problemas gástricos e intestinais, alterações cardiovasculares, dermatológicas e muitas outras.
Mas não é só. Enquanto ferida interior, pode levar a alterações comportamentais. Por exemplo, gerar respostas automáticas reativas ao trauma, dificuldades no relacionamento interpessoal, afetando as relações familiares (separação, divórcio, medidas protetivas etc.), sociais (agressividade, violência), laborais (desídia, faltas injustificadas, desatenção etc) e muitas outras situações desadaptativas.
Em síntese, a ferida emocional do trauma se assemelha a um vulcão interior. Está sempre ali, fumegando, mas também pode eclodir subitamente de uma hora para outra. A única saída para uma vida saudável é tentar elaborar o trauma. Sarar a ferida.
O caminho dessa elaboração passa, obrigatoriamente, pelo acolhimento profundo. Só ele é capaz de ensejar, outra vez, o sentimento de segurança, a autoestima e o amor-próprio perdidos. Só ele poderá verdadeiramente restaurar a lesão emocional. Em outros termos, será necessário devolver a palavra ao afeto.
Jorge Trindade é doutor em psicologia clínica e professor universitário.
Site: www.inpsi.com.br
E-mail: drtrindade@terra.com.br
Instagram: @jorgetrindade.prof
As opiniões e conteúdo desse artigo não expressam necessariamente a linha editorial do NorteRS ou pensamentos de seus diretores e editores. O conteúdo desse artigo são de inteira responsabilidade do autor.
Dr. Jorge Trindade\
Advogado e psicólogo. Pós-doutorado em Psicologia Forense Doutor em Psicologia, Doutor em Ciências Sociais e Professor.