Engenharia: olhando para Brumadinho
Um dos fatos mais tristes do Brasil aconteceu em 25 de janeiro de 2019, o rompimento da barragem B1 da Construtora Vale na cidade de Brumadinho MG
Data da Publicação da Notícia : 02/09/2021 10:37 por Patrick Tomaz
Patrick Tomaz
Infelizmente um dos fatos mais tristes do Brasil aconteceu em 25 de janeiro de 2019, o rompimento da barragem B1 da Construtora Vale na cidade de Brumadinho MG, vitimando ao menos 270 pessoas e ainda com onze desaparecidos, foram 12 milhões de metros cúbicos de rejeitos despejados, de acordo com a Vale mais de 106 mil pessoas recebem ajuda de urgência mensalmente. Como mostra a Engenharia, a tecnologia usada para a construção da barragem foi a mais instável, a empresa diz que na época eram construídas as barragens nesse método e atualmente não são mais construídas, inclusive se comprometeu a verificar rigorosamente as antigas construções nesse estilo. Além da barragem a montante construída em Brumadinho, existem outros dois métodos, sendo eles: alteamento para jusante e alteamento na linha de centro.
A barragem a montante consiste em primeiramente ser construído um dique de partida, é utilizado geralmente um aterro compactado, os rejeitos são despejados hidraulicamente, desde a parte mais alta do dique de partida, com o tempo esses rejeitos são compactados de forma a serem usados de base para a construção de outro dique, e assim acontece a sucessão de construções dos diques, em cima dos próprios rejeitos, tendo o mínimo de ligação entre um dique e outro. Desta forma, esse tipo de estrutura fica muito frágil, é inadmissível que uma barragem de rejeitos que é um material gerador de bastante pressão nos diques seja construída desta forma.
Figura 1 – Ilustração barragem a montante
Fonte: Jusbrasil, 2019.
O método mais seguro a ser utilizado seria a jusante, mesmo sendo a construção de mais alto custo, em Brumadinho deveria ser feita dessa forma, pois a cidade estava em nível mais baixo que a represa, o que acarretava em um maior risco. A barragem por alteamento a jusante consiste em primeiramente ser construído um dique de partida, com um aterro compactado, à medida que a borda livre é atingida, são feitos alteamentos sucessivos para a jusante, sendo muito mais seguro na estabilidade e resistência, pois seu crescimento é proporcional desde o primeiro dique até o último. Por ser de alto valor, esse método é usado em casos especiais, mas no caso da B1 poderia ser usado.
Figura 2 – Ilustração barragem a jusante
Fonte: Jusbrasil, 2019.
Por fim o método intermediário das barragens de rejeitos, é o método da barragem por linha de centro, esse estilo tem menos gastos que a jusante, porém mais que a montante, isso acontece pois é usado material em quantidade relativamente grande, sua construção é parecida com alteamento a montante, pois parte de um dique inicial visando a praia de rejeitos, assim que novos diques são necessários, são construídos sobre os rejeitos. Mas o diferencial desta represa é que um dique é construído em cima do outro, dando o nome de linha de centro, pois mantém seu eixo central do começo ao fim, crescendo sua estrutura do lado oposto aos rejeitos, dando mais segurança à construção.
Figura 3 – Ilustração barragem a alinhamento ao centro
Fonte: Jusbrasil, 2019.
De fato, poderia ter se pensado melhor no momento da construção da barragem de Brumadinho e outras que convém ao mesmo caso. Em nossa região não temos represas de rejeitos, por não ser um polo de mineração, mas temos outro tipo de barragem que também requer cuidado e manutenção, algo que certamente faltou em Brumadinho, a Vale diz ter inspecionado três dias antes do rompimento e não ter constatado nenhum tipo de irregularidade.
O último relatório técnico feito pela empresa responsável foi em setembro de 2018, aproximadamente quatro meses antes do rompimento, isso mostra a falta de competência e comprometimento por deixar tanto tempo passar sem que houvesse algum levantamento complexo de como estava a barragem dita como desativada.
Um dos motivos mais apontados pela ocorrência do desastre, foi a liquefação que pode ter ocorrido nos rejeitos, os quais nesse método de alteamento a montante são essenciais para o suporte dos diques. A liquefação é um processo que ocorre quando o fluxo de água presente nesse material exerce força que anula o peso e a aderência do material, ou seja, os rejeitos perderam o atrito entre eles, se tornando basicamente em lama, dessa forma os diques não suportaram toda a força exercida pela barragem.
Para verificação de uma construção dessa magnitude, com alto grau de complexidade e risco, deve-se revisar desde o projeto no momento que foi construída, ver se os aparelhos em uso nela estão todos funcionando sem problemas e ter um profissional com capacidade para examinar pessoalmente, para relatar se há a previsão de algum risco, não deixando assim chegar no momento de risco, pois senão pode ser tarde demais.
O que muitos especialistas desta área dizem é que os órgãos de segurança do trabalho, órgãos estaduais de construção, enfim... exigem muito o dispensável, e não exigem o indispensável, ou seja, muitas coisas obrigatórias para a construção as vezes não é tão necessário como um projeto de qualidade.
A mídia também discutiu bastante o despreparo na evacuação da cidade, pessoas presentes no local dizem não ter escutado nem a sirene no momento do rompimento, o que mostra a total negligência por parte dos responsáveis pela B1, colocando em risco a vida de todos que estavam ao seu redor.
Por fim, deve-se dizer que a manutenção é algo de extrema importância em uma construção, é primordial para que se tenha sucesso, e principalmente ter muito comprometimento e profissionalismo, o que faltou em Brumadinho.
Comparação entre antes e depois do desastre
Antes
Figura 4 – Vista aérea antes da catástrofe
Fonte: BBC News Brasil, 2019.
Depois
Figura 5 – Vista aérea depois da catástrofe
Fonte: G1 Globo, 2019.
Imagem da barragem antes do rompimento
Figura 6 – Barragem antes do rompimento
Fonte: Vídeo de Band jornalismo, 2019.
Imagem da barragem no momento do rompimento
Figura 7 – Barragem no momento do rompimento
Fonte: Vídeo de Band jornalismo, 2019.
Patrick Tomaz
Acadêmico de Engenharia Civil
UPF – 6º nível
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