Teste da linguinha: para mamar, falar e viver melhor
Desde 2014, é obrigatório a realização do Protocolo de Avaliação do Frênulo da Língua em Bebê, conhecido também como o teste da linguinha
Data da Publicação da Notícia : 15/07/2020 14:08 por Scheila Zang - HSVP
Maria e Laura são fonoaudiólogas no HSVP (Foto: Ascom HSVP/Scheila Zang)
Desde 2014, é obrigatório a realização do Protocolo de Avaliação do Frênulo da Língua em Bebê, conhecido também como o teste da linguinha. De acordo com as fonoaudiólogas do Hospital São Vicente de Paulo (HSVP) de Passo Fundo, Laura Giacometti e Maria Cristina Lucateli, o teste tem como objetivo a identificação precoce da anquiloglossia, popularmente conhecida como língua presa, e seu potencial de interferência nas funções orofaciais do recém-nascido. “Isso contribui para um diagnóstico correto e indicação de condutas assertivas evitando o desmame precoce ou baixo ganho de peso, que podem comprometer o desenvolvimento dos bebês”, pontuam.
No dia quatro de junho o pequeno Gael nascia na sua cidade de origem, São João da Urtiga, e por necessitar de cuidados especiais foi transferido para a CTI Neonatal do HSVP, juntamente com sua mãe Zilda Provensi. Com a realização do teste da linguinha foi possível detectar a alteração no frênulo lingual e iniciou-se a atuação da equipe de fonoaudiologia, auxiliando no processo da amamentação junto à alteração no frênulo lingual. “No começo fiquei com medo, porque ele tinha dificuldade ao mamar e só pegava no bico do peito”, afirma Zilda.
A mãe comenta que o desejo de amamentar sempre esteve presente, porém no início, pelo filho pegar apenas o bico do peito, a dor era constante. “Foi dado leite no copinho algumas vezes, ele sugava, mas não conseguia tirar o leite do copo. Ele chorava bastante”, ressalta. No dia 25 do mesmo mês, Gael realizou a frenotomia, cirurgia de pequeno porte utilizada para correção das limitações nos movimentos da língua. Conforme conta a mãe, de imediato o filho já começou a mamar corretamente, em toda a aréola do seio. “Eu achei que ele teria dificuldade no início, mas logo ele pegou no seio. Foi uma alegria, porque eu já estava preocupada que ele havia perdido peso por vários dias”, acrescenta.
No ano de 2019, 22,27% dos recém-nascidos no HSVP apresentaram algum tipo de alteração no frênulo lingual, compreendendo escores considerados duvidosos e alterados. Após o retorno ambulatorial para reavaliação, foi constatada interferência da mobilidade de língua em 25,58% dos pacientes, sendo estes encaminhados para liberação da mobilidade de língua. Ainda, 50,38% dos pacientes que retornaram para reavaliação receberam alta fonoaudiológica e 24,03% mantiveram acompanhamento do desenvolvimento da fala.
Limitações que a língua presa pode causar
Conforme explicam as fonoaudiólogas, a língua é constituída por um conjunto de músculos e pelo frênulo lingual, uma túnica mucosa que conecta o assoalho da boca a região ventral da língua, permitindo a movimentação desta em várias direções, o que favorece a execução das funções de sugar, engolir, respirar, mastigar e falar. “A não realização precoce do diagnóstico das alterações do frênulo lingual, pode comprometer essas funções”, ressaltam.
Assim, a atuação do fonoaudiólogo neste processo é fundamental, já que ele avalia se possui alteração no frênulo e se pode ou não interferir na mobilidade de língua, bem como no aleitamento materno. “É importante lembrar que nem toda alteração precisa fazer o procedimento, em alguns casos em que são classificados como duvidosos, são feitos acompanhamentos da amamentação para verificar a real necessidade de intervenção cirúrgica”, pontuam. A realização do teste da linguinha, com precauções necessárias, contribui de maneira positiva para o desenvolvimento adequado do recém-nascido evitando desmame precoce e prejuízos nas funções orofaciais essenciais para alimentação e comunicação ao longo da vida.
Amamentação
As especialistas salientam que além da nutrição do bebê, a amamentação influencia diretamente no desenvolvimento das estruturas orofaciais. A alteração no frênulo lingual quando não identificada ou diagnosticada de maneira incorreta pode causar interferência nos movimentos da língua prejudicando funções de sucção, deglutição, mastigação respiração e fala, afetando diretamente o aleitamento materno com dificuldade em fazer e manter a pega, dor materna ao amamentar, feridas mamárias centrais, ordenha ineficiente (bebê sempre com fome), diminuição da abertura de boca, e dificuldade no ganho de peso, consequentemente gerando reinternações ou prolongando a internação hospitalar. “Vale lembrar que nem sempre a dificuldade com o aleitamento materno é proveniente de alteração no frênulo lingual, cada caso deve ser avaliado em sua particularidade sem diagnósticos errôneos ou precipitado”, alertam.
Como é feito o teste da linguinha?
A avaliação do frênulo lingual é realizada de maneira não invasiva, não tem contraindicações e possibilita o diagnóstico e intervenção precoce por equipe multidisciplinar nos casos de anquiloglossia. Segundo as fonoaudiólogas, a aplicação da triagem do Protocolo de Avaliação do Frênulo da Língua para Bebês é realizada ainda na maternidade e CTI neonatal nos primeiros dias de vida. “Crianças que atingem escore sete ou mais necessitam de indicação de liberação da mobilidade de língua, devido à restrição importante nos movimentos e nas funções da língua. Já os bebês com escores entre zero a quatro não apresentam alterações do frênulo lingual”, afirmam.
Caso o escore obtido seja entre cinco e seis o bebê deverá ser acompanhado e reavaliado no primeiro mês de vida (20 a 30 dias) onde será analisada a anatomofunção, a sucção não-nutritiva e sucção nutritiva do bebê, conforme esclarecem as especialistas. “Estando a amamentação prejudicada pela anquiloglossia, escore 13 ou mais, o bebê deve ser encaminhado para liberação da mobilidade de língua”, explicam.
Como é feito o procedimento para correção dos movimentos da língua?
Constatada a presença de anquiloglossia e se houver necessidade de intervenção cirúrgica, o tratamento a ser realizado consiste em uma pequena cirurgia, dependendo de cada caso, como frenotomia ou frenectomia. “Nos bebês, a terapia fonoaudiológica pós-cirúrgica pode ser substituída pelo aleitamento materno que possibilita a realização e reabilitação dos movimentos de língua de maneira eficiente e contribuindo para a cicatrização adequada”, pontuam as fonoaudiólogas. Já em crianças maiores ou adultos se faz necessário a realização de terapia fonoaudiológica pós-cirúrgica com vistas a evitar complicações cicatriciais e adequar a função, mobilidade, força e resistência da língua e estruturas adjacentes.
O que acontece se o problema for identificado apenas na fase adulta?
Quando a identificação da alteração do frênulo lingual acontece de maneira tardia pode vir acompanhado de problemas relacionados a fala, como distorções, fala travada, e adaptações, principalmente na produção de sons como /r/, /s/ e /z/. Conforme Laura e Maria, há problemas de respiração, alimentação prejudicada devido ao predomínio de movimentos mastigatórios de amassamento e dificuldade na lateralização do bolo alimentar, deglutição adaptada, alterações na posição dos dentes e oclusão em virtude da postura inadequada de língua durante o repouso. “Bem como no crescimento mandibular e no desempenho das funções orofaciais, além de interferência em atividades de caráter social”, afirmam as profissionais.
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