Prisão de Temer afeta o governo Bolsonaro e a reforma da Previdência? Especialistas respondem
Segundo os procuradores do MPF, Temer e o ex-ministro Moreira Franco faziam parte de um esquema de corrupção que movimentou R$ 1,8 bilhão
Data da Publicação da Notícia : 23/03/2019 09:17 por agenciadoradio.com.br
A prisão do ex-presidente Michel Temer deixou muita gente surpresa e o fato foi um dos assuntos mais comentados nas redes sociais. Segundo os procuradores do Ministério Público Federal (MPF), Temer e o ex-ministro Moreira Franco faziam parte de um esquema de corrupção que movimentou R$ 1 bilhão e 800 milhões, pagos em forma de propina.
O que mais surpreendeu foi o tempo em que a organização atuava. Segundo a procuradora da República Fabiana Schneider, foram 40 anos de corrupção, lavagem de dinheiro e desvio de dinheiro público.
“Fazendo um comparativo de contratos que foram firmados entre a empresa Argeplan e entidades públicas, é visível o crescimento exponencial das contratações nos períodos em que Michel Temer ocupou cargos públicos. É possível fazer este paralelo e verificar a influência de Michel Temer nas contratações realizadas desta empresa. É claro que este é só um braço da organização criminosa, que vem atuando há 40 anos até os dias de hoje", disse a procuradora.
A prisão de Temer foi baseada em uma delação de José Antunes Sobrinho, dono da Engevix, que diz ter pago um milhão de reais em propina a pedido do coronel João Baptista Lima Filho, com o aval do ex-presidente e do ex-ministro Moreira Franco. Segundo as investigações, a empreiteira fechou um contrato em um projeto da usina de Angra 3, no estado do Rio de Janeiro.
Na avaliação do cientista político Valdir Pucci, a prisão do ex-presidente é um sinal de que o combate à corrupção é uma realidade no país.
“Esta prisão, politicamente, tem um significado muito importante. Primeiro, não é uma prisão que possa ser dita surpresa ou de surpresa, uma vez que todos os analistas, tanto da área jurídica, quanto da ciência política, acreditavam que o presidente, permanecendo no país, pelas denúncias que houve contra ele durante o seu mandato, corria grande risco de ser preso, o que de fato aconteceu. Então, é uma tendência natural do país, é uma demonstração ao país de que o combate à corrupção vai continuar, tem que continuar, pelos interesses da sociedade”, afirmou o cientista político.
Ao ser questionado se a prisão de Temer poderia ter algum impacto no governo Bolsonaro, o analista político Marcelo Moraes enfatizou que antes de pensar nisso, a atual gestão precisa resolver crises internas. Isso, na visão dele, possibilita que pautas importantes, como a Reforma da Previdência, sejam aprovadas.
“São dois cenários: um desfavorável ao governo, que é uma crise institucional entre o Executivo e o Poder Legislativo, o racha no Poder Legislativo entre a nova geração e a velha geração, e esse racha tira qualquer chance de aprovação da Reforma da Previdência em função do quórum qualificado, ou seja, você tem que ter uma base muito sólida para poder aprovar uma reforma. E, com o Congresso rachado, esta base sólida não existe”, enfatizou.
No mesmo dia em que Michel Temer foi preso, seis partidos de oposição ao governo decidiram lançar uma frente contrária à reforma da Previdência.
O MDB, partido de Temer e de Moreira Franco, divulgou uma nota em que diz lamentar "a postura açodada da Justiça à revelia do andamento de um inquérito em que foi demonstrado que não há irregularidade por parte do ex-presidente da República Michel Temer e do ex-ministro Moreira Franco".
Michel Temer é o segundo ex-presidente preso pela Lava Jato no Brasil. O primeiro foi Luiz Inácio Lula da Silva, que cumpre pena desde abril do ano passado.
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