Liderança contra todas as probabilidades
Liderança é um tema estranho. Por um lado, ensinado em diversos cursos acadêmicos e corporativos
Data da Publicação da Notícia : 24/10/2018 09:17 por Daniel Schnaider
Liderança é um tema estranho. Por um lado, ensinado em diversos cursos acadêmicos e corporativos, com uma imensa rede de mentores e coaches que se dizem aptos a te ensinar as técnicas de liderança somado a inacabáveis livros sobre o tema. Por outro, você conhece algum grande líder que fez treinamento de liderança e por isso se tornou um grande líder?
Isso é comum em temas que misturam arte e ciência, é difícil saber se as qualidades de liderança são natas, derivadas da educação dos pais, desenvolvidas diante das circunstâncias da vida ou que de fato podem ser aprendidas e lapidadas com treinamento.
Enquanto essas discussões de liderança se mantém inconclusivas, gostaria de trazer uma visão politicamente incorreta sobre o tema, para lhe proteger; isso mesmo, acredito que existe um tanto de argumentos suficientes para que você jamais queira se tornar um líder.
Primeiramente, liderança e fracasso são palavras extremamente íntimas. Como exemplo, Winston Churchill, político britânico, oficial do exército e escritor. Foi o primeiro-ministro do Reino Unido de 1940 a 1945, liderou o país para a vitória na segunda guerra mundial, mas perdeu a sua reeleição. Imagine a humilhação e decepção, ele certamente poderia ter escolhido outros caminhos mais fáceis.
Tentar fazer a coisa certa é parte da deficiência que caracteriza líderes. Em 1996, Shimon Peres o então primeiro ministro de Israel estava em campanha eleitoral contra Beijamin Natanyahu. Porém, existia uma janela de oportunidade para tentar realizar um acordo de paz com a Síria. Ao invés de focar nas eleições, Peres tentou trazer paz ao seu povo, e acabou perdendo as eleições por menos de 1%. Acabou reforçando seu apelido de “looser”.
Líderes muitas vezes tem um sonho, mas do que adianta ter um sonho se você jamais poderá vê-lo realizado? Este é o caso de Moises e Theodore Herzl. Moises tinha a missão de tirar o povo hebreu da escravidão do Egito e levá-los à terra prometida de Knaan. Porém, somente poderia entrar nesta terra “quem não conhecia a escravidão”.
Theodore Herzl foi o visionário que previu que os Judeus apenas teriam segurança quando tivessem seu próprio estado. Desenhou o plano para criar o estado judaico onde era a Palestina e promoveu a imigração ao território, porém faleceu 43 anos antes da fundação do Estado de Israel.
Líderes pagam um preço pessoal grande, que se estende à suas famílias. Este é o caso de Nelson Mandela que ao lutar contra a política de segregação racial do partido nacional da África do Sul, foi sentenciado a 27 anos de prisão. Sua esposa Winnie tornou-se a face pública de Mandela e, eventualmente, foi torturada pelo regime.
Martin Luther King Jr. um dos principais ativistas do movimento dos direitos civis dos negros nos Estados Unidos foi assassinado durante manifestação, em 1968, depois de 14 anos batalhando por direitos equivalentes entre negros e o resto da população americana.
Yitzhak Rabin foi um político israelense, estadista e general que lutava para finalizar os conflitos entre Israel e os Palestinos. Conseguiu firmar o acordo de paz com a Jordânia, mas foi assassinado durante uma manifestação contra a violência e a favor da paz, por um judeu-israelense.
Depois da fracassada invasão da Baía do Porcos, uma missão da CIA Americana em solo Cubano, e o posicionamento de mísseis balísticos em solo Italiano e Turco, o então primeiro-secretário da União Soviética, Nikita Khrushchev autorizou posicionar mísseis nucleares em Cuba gerando, talvez, o maior risco de conflito nuclear da história da humanidade. A responsabilidade e frieza de John F. Kennedy e de Nikita Khrushchev estabeleceram - apesar de todas as desavenças e opiniões contrárias dos especialistas - um canal direto de comunicação que salvou milhões de uma catástrofe. Pense nos níveis de stress que sofreram esses líderes.
Essas histórias nos mostram que liderança é cair, levantar e continuar, é fazer as coisas certas independentemente dos resultados, além do possível e, às vezes, provável fracasso. É sonhar e plantar sem necessariamente ver o desejo se tornar realidade ou poder colher os frutos semeados. É ser sozinho e isolado, muitas vezes abrindo mão do que você mais ama para fazer o que deve ser feito, realizando o bem dos outros em seu próprio detrimento. Ser criticado por aqueles que se beneficiam de suas atitudes, muitas vezes sacrificando sua própria saúde ou até a vida.
Se apesar de todas essas justificativas evidenciadas em fatos históricos, você tem coragem de levantar de manhã e enfrentar inúmeros desafios para, de algumas forma, melhorar uma pequena parcela do mundo, você é um líder. Está pronto. Vá a luta; conhecimento a mais não fará mal, mas a falta não o deterá. Porém, se o medo das consequências te intimida, não será o curso, mentoria ou livro que o fará - talvez o que lhe falta é um verdadeiro propósito, uma grande paixão.
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