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Relação entre Lula e Milei será desafio para diplomacia com forte impacto no Mercosul

Além da total falta de afinidade ideológica, na campanha que levou à vitória eleitoral de 19 de novembro, Milei, que tem laços estreitos com o ex-presidente Jair Bolsonaro, não poupou críticas a Lula



Data da Publicação da Notícia : 29/11/2023 08:34 por Redação

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Luiz Inácio Lula da Silva. EFE/Arquivo/Andre Borges

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Buenos Aires (EFE).- A relação entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e Javier Milei, que assumirá o governo da Argentina no próximo dia 10 de dezembro, desponta como um desafio para a diplomacia e terá impacto direto não só na estratégica relação bilateral, mas também no Mercosul, bloco formado também por Uruguai e Paraguai.

As bases do relacionamento que Milei e Lula terão que construir não são boas.

Além da total falta de afinidade ideológica, na campanha que levou à vitória eleitoral de 19 de novembro, Milei, que tem laços estreitos com o ex-presidente Jair Bolsonaro, não poupou críticas a Lula, aliado do governo em fim de mandato de Alberto Fernández, e garantiu que não se encontraria com o brasileiro como chefe de Estado pelo fato de ser “comunista”.

Após a vitória de Milei, houve sinais de ambas as partes visando pelo menos não explodir todas as pontes entre as duas maiores economias da América do Sul. Dois países que, além disso, souberam forjar laços de amizade, um comércio robusto e uma aliança política em fóruns internacionais, como o G20.

Até agora tudo se limitou a uma saudação de felicitações de Lula nas redes sociais e a uma carta de Milei convidando-o para sua posse, enquanto o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, recebeu neste domingo em Brasília a futura chanceler argentina, Diana Mondino, para um primeiro diálogo em um clima amistoso.

“Apesar de certas expressões de moderação, ainda existem muitas dúvidas sobre como as relações serão afetadas”, disse à Agência EFE Lisandro Mogliati, consultor de negócios internacionais, que frisou que “um bom vínculo diplomático é vital” para, entre outras coisas, desbloquear barreiras ou agilizar mecanismos comerciais.

Alguns analistas acreditam que Milei e Lula, por pragmatismo, não chegarão ao ponto de ruptura, mas que a frieza e certa tensão retórica ocorrida entre Bolsonaro e Fernández poderão se repetir enquanto seus mandatos coincidirem.

“Naquela época, a Argentina foi muito ativa para evitar que esse congelamento das relações em nível de presidentes afetasse outras áreas da relação bilateral. É provável que agora a diplomacia tente algo semelhante”, opinou à EFE Gabriel Puricelli, coordenador do Programa de Política Internacional no centro de estudos do Laboratório de Políticas Públicas.

Todos destacam a capacidade do peronista Daniel Scioli, embaixador argentino em Brasília desde meados de 2020, de conseguir levar adiante a ampla agenda bilateral apesar da inimizade entre Fernández e Bolsonaro, com quem estabeleceu pessoalmente um bom relacionamento, assim como o que sempre teve com Lula.

É essa habilidade que parece ter convencido Mondino de que seria uma boa ideia Scioli permanecer como embaixador em Brasília.

Em suma, os especialistas preveem uma relação entre Lula e Milei que não será fácil e que também impactará previsivelmente o funcionamento do Mercosul, bloco que, desde a sua criação em 1991, acelera ou paralisa o seu progresso dependendo das circunstâncias de maior ou menor harmonia política entre Argentina e Brasil.

Milei afirmou durante a campanha que o Mercosul “fracassou brutalmente” e que, “como propõem o Paraguai e o Uruguai, tem que ser modificado”, porque “do jeito que está, não serve”.

De resto, o economista libertário questiona toda a regulação comercial e sustenta que as transações devem ser limitadas a acordos entre partes privadas, sem qualquer intervenção dos Estados.

Mogliatti não acredita que Milei chegue ao ponto de retirar a Argentina do Mercosul – uma decisão jurídica e comercial muito complexa -, mas ressaltou que, “com ideias tão diametralmente opostas” entre Lula e o libertário convivendo em um bloco onde as decisões são tomadas por consenso, “é provável um ‘stand by’ dentro do Mercosul”.

“O Mercosul está estagnado há muitos anos. O mais provável é que as coisas continuem como estão, sem grandes avanços, mas não com muitos retrocessos”, previu Puricelli. EFE




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